João Rock: em 2025, o festival de música chega à 22ª edição celebrando a música brasileira (Divulgação)
Repórter
Publicado em 14 de junho de 2025 às 12h50.
Última atualização em 15 de junho de 2025 às 00h19.
RIBEIRÃO PRETO (SP)* - Fazer um show em uma terça-feira é bastante comum, mas um festival de música pode parecer 'loucura'. Essa estranheza ou longe de Ribeirão Preto, em 19 junho de 2002, quando foi realizada a primeira edição do João Rock, em comemoração do aniversário da cidade. Na ocasião, o megaevento reuniu grandes nomes da música brasileira como Skank, Cidade Negra, Jota Quest e Charlie Brown Jr., e atraiu um público de pelo menos 12 mil pessoas no estádio Palma Travassos.
Hoje, essa margem supera 70 mil pessoas anualmente, marcando a ascensão meteórica do João Rock. Consolidado como um dos principais festivais do Brasil, ele já ultraou as fronteiras de sua terra natal e bateu a meta de conquistar grande parte dos paulistas. Agora, encara uma missão ousada: atrair cada vez mais fãs de vários cantos do país, tendo a música nacional como carro-chefe de seu cardápio, e desafiar gigantes do setor como Rock in Rio e Lollapalooza.
Neste sábado, 14, o festival chega à sua 22ª edição com o intuito de homenagear a Black Music, e traz um line-up formado por importantes nomes como Seu Jorge, Sandra de Sá, Farofa Carioca (com Paula Lima e Hyldon), Baile do Simonal (com Max de Castro e Wilson Simoninha) e o lendário Tony Tornado. O Parque Permanente de Exposições, casa oficial do João Rock desde o evento alcançou grandes proporções, também receberá outros artistas populares, como Barão Vermelho, Nando Reis, Maneva, Vanessa da Mata e Ana Cañas. A lista inclui também BaianaSystem, Rael, Rincon Sapiência, Duquesa, Cabelinho e Yunk Vino.
Luit Marques, fundador do João Rock - Imagem: divulgação/Denilson Santos (Denilson Carioca/Divulgação)
O João Rock é promovido anualmente pela Banana Eventos, empresa que atua na indústria musical desde 1993, quando começou a produzir shows universitários. No entanto, para crescer no setor, o fundador, Luit Marques, se deparou com a necessidade de investir em espetáculos nos moldes dos maiores festivais da época.
"A ideia foi criar um festival de música que acompanhasse o movimento crescente do rock no Brasil e que não ficasse atrás de outros eventos de grande impacto", recordou o empresário. Sua maior inspiração foi o "Hollywood Rock" — festival de música que ocorreu no Brasil, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, entre 1988 e 1996.
Embora o regionalismo pareça um fator limitante, Marques enfatiza que ele foi crucial para a viabilidade de Ribeirão Preto como a sede do evento ao longo dos anos. A cidade, apelidada de "Califórnia Brasileira" em razão do seu charme e clima, tinha uma identidade mais voltada ao sertanejo. No entanto, o João Rock mudou isso, reunindo fãs de diversos estilos que tinham em comum o apreço pela brasilidade.
"Antes, era chamado pelos amantes de rock de 'dia da libertação', mas agora essa expressão acolhe também os apreciadores de reggae, rap, MPB, funk e muito mais. Ribeirão criou um vínculo forte com o João Rock, que influencia a sua identidade até hoje".
Além desse fervor cultural, o negócio também impactou a economia da cidade. "Todos os anos, o festival gera pelo menos 3 mil empregos diretos, agita comercio e o setor hoteleiro da região, e incentiva investimentos do poder público em infraestrutura", explica. "Mesmo sendo a 'capital do agronegócio', Ribeirão também ganhou visibilidade pela sua potência no entretenimento. O João Rock mexeu não apenas no calendário da cidade, como também na vida dos moradores e empresários locais, de maneira positiva é claro".
Em 2024, o Brasil foi palco de 364 festivais de música, representando um aumento de 20% em comparação com o ano anterior, segundo dados recentes da plataforma Mapa dos Festivais. Os maiores festivais, como Lollapalooza, The Town e Rock in Rio, continuam sendo âncoras do setor, movimentando multidões e a vida econômica das cidades-sede.
Em relação a vendas de ingressos e patrocínios de shows, o faturamento alcançou R$ 554,6 milhões em 2024, alta de 4,8% sobre 2023 e a tendência é chegar a R$ 589,9 milhões em 2027, de acordo com levantamento da consultoria PwC.
Apesar dos avanços, o segmento enfrenta alguns desafios que podem afetar seu desempenho para os próximos anos. Entre eles, há: saturação do calendário de eventos, levando a maior seletividade do público. Aumento do custo operacional e do preço dos ingressos, e necessidade de inovação em formatos, experiências e captação de novos públicos para manter a sustentabilidade do crescimento.
Diante deste cenário competitivo, Luit Marques já tem uma estratégia definida para tomar a dianteira. "Os dados gerados na compra de ingressos online mostram aumento no retorno de visitantes do festival e a aquisição de públicos de diferentes estados do Brasil. Isto está relacionado à inclusão de palcos que conversam não apenas com o rock nacional, mas também com outros gêneros, reforçando que o João Rock é para todos os brasileiros".
E acrescenta: "Houve crescimento do público do palco Aquarela, espaço criado recentemente e dedicado exclusivamente às mulheres da música brasileira, e atende à demanda por diversidade e representatividade. São investimentos focados na sensação do pertencimento entre os visitantes".
O empresário também pretende continuar oferecendo atrações que vão além da música — e para isso estreitará mais os laços com grandes marcas envolvidas com entretenimento. Nesta edição são mais de 20 ativações confirmadas, um recorde na história do festival.
A Eisenbahn se destaca como patrocinadora master e cerveja oficial do João Rock pelo segundo ano consecutivo. Neste ano, a marca do Grupo Heineken estreia o Palco Eisen Rock, que receberá artistas de Ribeirão Preto, como M.I.L.A, Banda Sheik, Versão Dois, o vencedor do concurso de bandas promovido pelo festival, e o DJ Rodrigo Mod.
Outro patrocínio master vem do Banco do Brasil, com a tradicional roda-gigante, de mais de 20 metros de altura e com vista panorâmica do festival. Além da tirolesa, com mais de 120 metros de extensão, operada em parceria com a Mike’s (da Ambev). A Coca-Cola também regressa ao João Rock, desta vez com o Coke Studio, um espaço que une pista de dança, personalização de copos, distribuição de produtos e ativações fotográficas. A marca também é responsável pelo tradicional balão do festival.
A edição também será apoiada por outras empresas como Lagunitas, também do Grupo Heineken, responsável pelo camarote open bar e open food do evento, O Boticário, Cielo e Jack Daniel’s.
Para Marques, o festival ganhou força como um espaço estratégico para marcas de diferentes segmentos promoverem experiências e reforçarem seus posicionamentos. Um fator que pesa bastante no faturamento da organização.
"As bilheterias representam a maior fatia do nosso lucro todos os anos, temos uma dependência grande delas no negócio, mas as parcerias com as marcas não param de crescer. Muitas delas são novas aqui e direcionam recursos não apenas com patrocínio direto, como também nas ativações", explica. "O trabalho nos ajuda a investir em inovação e momentos significativos aos visitantes."
Além dos patrocínios, o fundador do João Rock enfatiza que o controle das despesas com a operação e a conquista de públicos fora de São Paulo tornaram as edições financeiramente sustentáveis Uma situação que trouxe credibilidade na relação com as marcas e criou margem para mais novidades para os próximos anos. (apesar disso, a empresa não apresenta dados de rendimentos dos últimos anos por questão de compliance).
"É um momento de forte concorrência, com custos elevados de produção e dificuldades para captação de recursos e públicos. Mas, provamos nossa força no mercado, que somos capazes de gerar caixa e surpreender os fornecedores. Dessa maneira, vamos fazer melhor a cada ano, com novos palcos e estilos, seduzindo os jovens e os adultos de vários cantos do país".
Curiosidade: o nome "João" Rock foi escolhido como uma homenagem a todos os Joãos e Johns no universo do rock, refletindo uma tradição comum entre bateristas de bandas renomadas, tanto no Brasil quanto no exterior, como João Baroni, dos Paralamas, John Densmore, do The Doors, e John Bonham, do Led Zeppelin.
*O jornalista viajou a convite do João Rock.