Em meio aos protestos contra imigração, Los Angeles adota toque de recolher e prisões, com presença da Guarda Nacional enviada por Trump
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Publicado em 11 de junho de 2025 às 06h59.

Última atualização em 11 de junho de 2025 às 07h22.

A polícia de Los Angeles iniciou "prisões em massa" de manifestantes depois que um toque de recolher entrou em vigor em parte do centro da cidade, segundo anunciou a CNN. O número de detenções já é de pelo menos 378 pessoas nos últimos quatro dias — incluindo quase 200 prisões somente na terça-feira, 10 — de acordo com o chefe de polícia, Jim McDonnell.

O Departamento de Polícia de Los Angeles divulgou o início das prisões, enquanto vários grupos de protesto continuavam a se reunir na zona designada para o toque de recolher - cerca de 2,5 quilômetros quadrados, dos mais de 500 que compõem a metrópole californiana, segunda maior cidade dos Estados Unidos.

"Vários grupos continuam a se reunir na 1st St entre Spring e Alameda", escreveu o departamento no X. "Esses grupos estão sendo abordados e prisões em massa estão sendo iniciadas".

Segundo relato de repórteres da CNN, cerca de 10 a 20 pessoas foram vistas sendo presas na área do toque de recolher, à noite. Uma pessoa foi vista sendo fisicamente contida no chão, com as mãos amarradas atrás das costas.

Um helicóptero da Patrulha Rodoviária da Califórnia foi deslocado para o local e está sobrevoando principalmente a área de Little Tokyo, no centro de Los Angeles.

Para o capitão da Patrulha Rodoviária Estadual Ron Johnson, ouvido pela CNN, o toque de recolher vai servir para "separar a multidão entre manifestantes pacíficos e agitadores".

"Os manifestantes que estão lá pacificamente irão para casa. São agitadores que ainda estão por aí. E assim vai separar a multidão e dar uma chance para a polícia", disse ele.

Pequenos protestos ocorreram na terça-feira, concentrando-se em frente a um prédio federal que se tornou o epicentro do descontentamento social contra as operações de detenção e deportação de imigrantes irregulares.

No meio da tarde de terça, a polícia começou a dispersar as pessoas com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo.

A prefeita de Los Angeles, Karen Bass, destacou o controle sobre a cidade:

"Acho importante não minimizar o vandalismo e a violência que ocorreram lá: foram significativos", disse Bass na entrevista coletiva. "Mas é extremamente importante saber que o que está acontecendo neste quilômetro quadrado não está afetando a cidade. Algumas das imagens dos protestos e da violência dão a impressão de que se trata de uma crise que atinge toda a cidade, mas não é."

A mão pesada de Trump

Os protestos em Los Angeles começaram pacificamente na sexta-feira, dia 6, motivados por operações dos agentes de imigração do ICE (Serviço de Imigração e Alfândega, na sigla em inglês) para prender imigrantes em situação irregular na cidade.

No entanto, a adesão crescente de manifestantes nas ruas acabou gerando episódios de violência e enfrentamento contra agentes federais, além de depredação de carros e prédios públicos.

Segundo Karen Bass, apenas na segunda-feira 23 empresas foram saqueadas durante a onda de protestos.

Em resposta, o presidente Donald Trump anunciou, ainda no sábado, o envio de dois mil soldados da Guarda Nacional, que chegaram no dia seguinte com a função de proteger agentes federais e prédios públicos.

A decisão foi considerada "propositalmente inflamatória" pelo governador da Califórnia, o democrata Gavin Newsom, e algo que não era visto há décadas, segundo a imprensa americana.

"É intencionalmente provocativo e só aumentará as tensões. Estamos em estreita coordenação com a cidade [Paramount] e o condado [Los Angeles]", postou no X o governador Newsom, apontado como um potencial candidato à sucessão de Trump.

A Guarda Nacional, uma força de reserva militar, é mobilizada em situações de emergência, como desastres naturais, mas seu envio é incomum em casos de protestos. Em 2020, foi mobilizada após os distúrbios provocados pela morte de George Floyd em uma ação da polícia.

Ignorando as críticas e os riscos, Trump dobrou a aposta na segunda-feira, com o envio de mais dois mil militares da Guarda Nacional e 700 fuzileiros navais, cujas funções não ficaram claras, segundo Bass.

Newsom entrou com uma ação de inconstitucionalidade e uma outra medida, exigindo que as tropas em Los Angeles não exerçam funções de aplicação da lei, como atuar em operações migratórias. Mas um juiz federal rejeitou o pedido, e uma nova sessão foi marcada para esta quinta-feira.

Oponente à altura

Enquanto o presidente Donald Trump intensificou sua retórica contra as manifestações, o governador Gavin Newsom chegou a acusar o atual chefe da Casa Branca de tirania.

"Enviar combatentes para as ruas é algo sem precedentes e ameaça os fundamentos da nossa democracia. [Trump] está agindo como um tirano", disse o democrata.

De fato, os reservistas da Guarda Nacional não eram mobilizados por um presidente, contra a vontade de um governador, desde 1965, no auge do movimento dos direitos civis.

A lei americana proíbe, em grande parte, o uso do Exército como força policial, salvo em caso de insurreição. E Trump não descartou invocar a Lei de Insurreição, o que lhe daria autorização para usar tropas regulares em todo o país.

Na prática, o que o presidente dos EUA conseguiu fazer, em termos políticos, ao enviar sem aviso soldados para Los Angeles, foi dar a oportunidade de Newsom assumir o posto ainda vago de líder da oposição, tornando-se, inclusive, um potencial presidenciável democrata

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