Agência de notícias
Publicado em 11 de junho de 2025 às 07h54.
Uma ponte entre a Sicília e a ponta da bota da Itália? O governo de Giorgia Meloni retomou este projeto custoso e controverso, que já existe há meio século e, segundo vários observadores, pode nunca se concretizar.
Com essa ponte, seria possível cruzar da Calábria à Sicília em quinze minutos de carro, graças a uma rodovia de seis pistas, além de uma linha de trem.
No entanto, os fortes ventos que sopram pelo Estreito de Messina, com rajadas de até 100 km/h, podem comprometer sua estabilidade.
Além disso, essa área no sul da Itália está situada na fronteira entre duas placas tectônicas e já foi palco de terremotos devastadores.
Apesar dos desafios, o governo italiano afirma que a infraestrutura será construída com tecnologia de ponta e que o trecho suspenso entre seus dois pilares, assentados no mar, será o mais longo do mundo, com 3,3 km. Contudo, a população local está cética, pois, ao longo dos anos, muitos projetos semelhantes foram anunciados e financiados, mas nunca concluídos, principalmente devido à corrupção e à instabilidade política do país.
"A população local não confia na classe política nem nesses projetos, que se tornam projetos intermináveis", afirmou Luigi Storniolo, do grupo No Ponte (Não à Ponte).
O governo italiano planeja investir € 13,5 bilhões (R$ 86,1 bilhões), financiados pelo Estado com contribuição das regiões. O ministro da Infraestrutura e Transportes, Matteo Salvini, acredita que a ponte "será um acelerador de desenvolvimento" e ajudará a impulsionar o comércio com a Sicília, que exporta principalmente produtos petrolíferos.
Atualmente, a Sicília enfrenta um "custo de insularidade" de cerca de € 6,5 bilhões (R$ 41,4 bilhões) por ano, de acordo com um estudo publicado pela região.
O governo italiano deve aprovar o projeto em junho de 2025, com a construção iniciando "neste verão", segundo Salvini. No entanto, tanto especialistas quanto políticos locais temem que as máfias calabresa e siciliana, a 'Ndrangheta e a Cosa Nostra, respectivamente, possam se beneficiar deste projeto faraônico.
A máfia tem se infiltrado na economia local por meio de empresas de fachada, testas de ferro e redes de corrupção, especialmente nos setores de escavação, fabricação de cimento e contratação de mão de obra, conforme explicou Rocco Sciarrone, doutor em Sociologia pela Universidade de Turim.
Embora Matteo Salvini defenda que a ponte criaria 120 mil empregos nas regiões da Calábria e Sicília, onde o desemprego juvenil é alto, economistas como Domenico Marino, da Universidade de Reggio Calabria, acreditam que a criação de empregos temporários não compensará a perda de empregos ligados ao transporte por balsas.
Além disso, o Tribunal de Contas italiano analisou o orçamento de 2024 e encontrou um "forte desequilíbrio" em favor da ponte nas verbas destinadas à infraestrutura, enquanto a Calábria e a Sicília ainda enfrentam problemas como a falta de trens de alta velocidade e a escassez de água devido à má condição das redes de distribuição.
Ativistas ambientais, como Luigi Storniolo, alertam sobre os riscos que o projeto representa para as reservas naturais protegidas da região.