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Fim da isenção e IR de 17,5%: MP do governo pode “esmagar” mercado cripto no Brasil, diz advogado

Medida Provisória gerou debate entre advogados, empresários e especialistas; entenda quais são as mudanças

Direito e tecnologia (the-lightwriter/Getty Images)

Direito e tecnologia (the-lightwriter/Getty Images)

Mariana Maria Silva
Mariana Maria Silva

Repórter do Future of Money

Publicado em 12 de junho de 2025 às 18h01.

Última atualização em 14 de junho de 2025 às 13h21.

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Publicada na última quarta-feira, 11, a Medida Provisória nº 1.303/2025 gerou discussão entre advogados, empresários e especialistas do setor de criptomoedas. A MP altera significativamente o regime de tributação de ativos virtuais no Brasil, promovendo o fim da isenção de Imposto de Renda para vendas mensais de até R$ 35 mil em cripto, por exemplo.

O que muda com a MP nº 1.303/2025?

Entre as mudanças, além do fim da isenção, foi estabelecida a padronização de IR em 17,5% para todos os ganhos de capital com criptoativos. O imposto a a ser apurado trimestralmente, ao invés de semestral ou anualmente, com possibilidade de compensação de perdas a partir de 2026 – sem, contudo, aplicação retroativa.

As mudanças valem para criptomoedas e tokens similares. Já tokens representativos de ativos financeiros, a MP prevê que haverá aplicação do tratamento tributário referente ao ativo subjacente.

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“A proposta ainda determina a aplicação desse mesmo regime para tributação de operações no exterior, cuja alíquota era de 15%, com apuração anual. Veja-se que o governo altera, neste ponto, a legislação recentíssima, de 2023, que conduziu o planejamento patrimonial de inúmeros contribuintes brasileiros, em mais uma prova clara do crônico desrespeito à segurança jurídica no Brasil; ainda, a alteração do recente regime de tributação no exterior, mostra que a confiabilidade das alterações proposta pelo atual governo brasileiro é pequena”, disse Guilherme Peloso Araujo, tributarista sócio no Carvalho Borges Araujo Advogados.

“Ainda, a MP atribui às exchanges o dever de retenção de imposto (também de 17,5%) no pagamento de rendimentos decorrentes de cessão do ativo virtual. Neste ponto, a lei promove incentivo ao uso de exchanges internacionais”, acrescentou.

Confira todas as mudanças propostas pela MP para o mercado de ativos digitais:

1. Unificação da alíquota para pessoa física em 17,5% sobre qualquer tipo de rendimento com criptoativos;
2. Staking de criptomoedas também terá tributação de 17,5%, retida na fonte;
3. A tributação será trimestral, tanto para operações no Brasil quanto no exterior. Antes, podia ser mensal ou anual;
4. Fim da isenção para vendas que, mensalmente, somassem até R$ 35 mil em criptoativos;
5. Possibilidade de compensação de perdas para pessoas físicas a partir de 2026 e sem aplicação retroativa;
6. Vedação à compensação de perdas com criptoativos para pessoas jurídicas no lucro real, presumido ou arbitrado;
7. Aumento da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) para 15% ou 20% para prestadoras de serviços com ativos virtuais.

Repercussão na indústria

A Medida Provisória 1.303/2025 gerou repercussão entre empresários, advogados e especialistas em criptomoedas. Para eles, a MP pode prejudicar o mercado de criptoativos no Brasil e ter impacto negativo na inovação financeira no país.

“Caso seja convertida em lei, a MP 1303/15 tem o potencial de esmagar absolutamente o mercado de criptoativos. Além da apuração de lucros e perdas ser bastante difícil de conciliar com dados de várias exchanges, obrigar a pessoa física a realizar essa apuração trimestralmente (art. 31, §2º, I) é algo inimaginável”, disse Thiago Barbosa Wanderley, tributarista sócio do Salles Nogueira Advogados e Doutor em Direito Tributário pela USP, com tese sobre tributação de criptomoedas.

“Além disso, a retirada da isenção de 35 mil impõe ao pequeno investidor uma complexidade tão grande quanto a apuração de impostos que temos dois prováveis efeitos: i) diminuição grande do número de pequenos investidores; ou ii) aumento do mercado informal de criptoativos (transações diretas de pessoa para pessoa - P2P)”, acrescentou.

A Associação Brasileira das Empresas Tokenizadoras de Ativos e Blockchain (ABToken) informou em nota que vai acompanhar a tramitação. “Estamos atentos aos prazos para eventuais manifestações em defesa do mercado, mitigando possíveis impactos negativos para o setor”, disse a entidade.

Em nota, a Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABcripto) alertou sobre a possibilidade de “retrocesso” e impacto negativo no mercado local:

"A ABcripto reconhece o esforço das autoridades em evoluir o marco tributário do setor, mas entende que as medidas citadas são um retrocesso e vão afetar negativamente o mercado local, empurrando investidores para plataformas que não seguem as regras estabelecidas no Brasil e para valores mobiliários isentos desta tributação — criando um desequilíbrio no mercado, comprometendo a arrecadação, a segurança dos investidores e a própria efetividade da regulação", disse a associação.

"O Brasil é hoje uma referência internacional em regulação da criptoeconomia, resultado de um processo maduro e colaborativo entre governo e setor privado. Preservar esse ambiente saudável e competitivo deve ser prioridade para que a inovação continue florescendo dentro de um marco legal seguro e transparente", acrescentou.

“O Governo revela uma dualidade clara: o projeto de lei que propõe alocar 5% das reservas internacionais em bitcoin, hoje negociado acima de US$ 100 mil, próximo das máximas históricas, segue tendências macroeconômicas globais, com países utilizando o bitcoin como ferramenta para se proteger da inflação e de um possível risco sistêmico do colapso do dólar americano. Isso posicionaria o Brasil como protagonista na economia digital e impulsiona o mercado cripto global com a entrada da 10ª maior economia em nível soberano. De um outro lado, as recentes mudanças tributárias sobre operações financeiras encarecem transações e afetam o usuário final. É buscar inovação e, ao mesmo tempo, frear o crescimento do varejo”, disse Noel Hatem, COO da Exchange cripto Bumba.

A visão de empresários do setor

"Estamos sendo impedidos de competir com corretoras estrangeiras, muitas das quais recebem investimentos milionários e operam em mercados mais estáveis e com regulamentações mais equilibradas”, disse Rocelo Lopes, CEO da SmartPay e criador da Truther, carteira digital que integra Pix com criptomoedas como USDT e bitcoin.

“Com uma carga tributária desproporcional, o investidor vai buscar plataformas lá fora, fora do alcance da regulamentação nacional — e isso é perigoso para o usuário e péssimo para o desenvolvimento da indústria local. O Brasil já perdeu muitas oportunidades tecnológicas. Não podemos repetir esse erro com a criptoeconomia”, acrescentou.

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