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Petróleo

Por que os ataques de Israel ao Irã são diferentes (e mais preocupantes) desta vez

Qualquer esperança de um petróleo abaixo dos US$ 60 por barril este ano foi enterrada, diz Gavekal

Israel-Irã: ataques de Israel contra o Irã pressionam preço do petróleo
Israel-Irã: ataques de Israel contra o Irã pressionam preço do petróleo
Rebecca Crepaldi

Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 13 de junho de 2025 às 11:44.

Última atualização em 13 de junho de 2025 às 12:26.

Não é a primeira vez que Israel ataca o Irã. Mas os bombardeios realizados nesta madrugada são bem diferentes dos realizados em abril e outubro de 2024, afirma a Gavekal em relatório. No ano ado, os ataques de ambos os lados foram “retaliações justificadas, limitadas e voltadas, em grande parte, para a dissuasão e a desescalada”.

Agora, os ataques lançados por Israel foram agressivos e preventivos, escreve o analista Tom Holland. “Seu objetivo não foi enviar uma mensagem; foi degradar materialmente o programa nuclear do Irã nos primeiros movimentos de algo que pode muito bem se tornar uma campanha prolongada”, diz o analista.

Apesar da tensão, os confrontos registrados em 2024 seguiram uma espécie de entendimento tácito sobre as regras do jogo. Após o assassinato do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, em setembro daquele ano, e o início das operações terrestres de Israel no Líbano, o Irã respondeu com duas ondas de mísseis lançadas contra alvos estratégicos israelenses.

A retaliação veio com bombardeios aéreos em bases militares iranianas, num movimento que especialistas descrevem como uma estratégia de “escalar para desescalar”. Com a resposta considerada proporcional por ambos os lados, os ataques cessaram. “A honra foi considerada satisfeita, e não houve mais trocas.”

Desta vez foi diferente, diz Holland. "A ação de Israel não fez parte de um processo de ação e reação. Não foi conduzida com assistência dos EUA, como deixaram claro os comentários do Secretário de Estado, Marco Rubio. E não ofereceu à liderança do Irã nenhuma saída clara para evitar uma escalada descontrolada das hostilidades.”

Pelo contrário, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu que os ataques continuariam na tentativa de interromper os programas nuclear e de mísseis do Irã e impedir que o país desenvolva armas nucleares operacionais.

Segundo a Atomic Energy Agency (AIEA), o Irã possui agora mais de 400 kg de urânio enriquecido com teor de 60% de U-235 — um volume considerado excessivo que, na prática, serve como base para a produção de armamentos nucleares avançados.

Na quinta-feira, 12, o governo iraniano anunciou que deve acelerar o ritmo do programa, com centrífugas mais modernas instaladas em uma nova unidade, descrita como localizada em um “local seguro”.

O quanto Israel pode ser bem-sucedida em desmobilizar o programa nuclear iraniano, diz o analista. As instalações de enriquecimento do Irã estão localizadas em locais subterrâneos protegidos que “desafiariam até mesmo as armas convencionais mais poderosas dos EUA”. Ainda assim, os assassinatos seletivos realizados por Israel mostraram que os membros seniores do programa são mais vulneráveis.

O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, prometeu retaliação, e já circulam relatos de que o país lançou ataques com drones contra alvos em Israel. As negociações entre Estados Unidos e Irã para retomar o acordo nuclear, previstas para este domingo em Omã, também estão agora ameaçadas.

Adeus, petróleo a US$ 60

Para empresas e investidores, a consequência imediata da ação de Israel será um prêmio de risco geopolítico mais alto nos mercados financeiros, especialmente nos mercados de energia, escreve Holland no relatório.

Nesse contexto, diz ele, qualquer esperança remanescente de preços do petróleo abaixo dos US$ 60 por barril neste ano deve ser enterrada. Mas a Gavekal não espera uma escalada sem fim na cotação da commodity. "É provável que o Brent registre média entre US$ 67,50 e US$ 70 por barril no segundo semestre de 2025", ponderou o analista.

Hoje, a reação foi imediata. Após os ataques direcionados a instalações nucleares, os contratos futuros do Brent com vencimento mais próximo chegaram ao patamar dos US$ 78,50, antes de recuarem para abaixo de US$ 75. O ouro ultraou US$ 3.440 por onça troy, e as bolsas americanas caem.

“A intensidade da reação do mercado de petróleo — em contraste com as reações relativamente contidas às ações do ano ado — faz sentido”.

A commodity havia se recuperado da queda abaixo dos US$ 60 por barril após as “tarifas recíprocas” do Liberation Day. No último mês, esperanças de uma trégua tarifária prolongada e, consequentemente, uma diminuição do risco de recessão sustentaram os preços, apesar do anúncio de aumentos significativos de produção pela Opep+.

Agora, caso as conversas entre Estados Unidos e Irã fracassem de vez, o mercado já considera a chance de sanções mais duras contra o Irã. Além disso, há o temor de que um conflito mais longo acabe afetando instalações usadas para exportar petróleo na região. Só esse receio é suficiente para manter o valor do petróleo em alta.

Com a melhora nas perspectivas para o crescimento global e a redução dos temores sobre novas tarifas, o mercado já trabalha com a possibilidade de que a Opep+ suspenda novos aumentos de produção após julho.

Ao mesmo tempo, a oferta dos Estados Unidos deve diminuir nos próximos anos — segundo a Energy Information istration (EIA), a produção local tende a cair a partir do nível atual até 2026, sustentando a tendência altista.

No movimento dos mercados hoje, o que chama atenção é o desempenho do dólar americano, que se fortaleceu apenas modestamente, com o índice DXY subindo apenas 0,36% a partir da mínima de três anos registrada na quinta-feira, 12.

É mais um sinal dos novos tempos, em que a divisa americana abre mão de seu 'privilégio exorbitante' de ser o porto seguro do mundo.

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Rebecca Crepaldi

Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Jornalista formada pela Unesp, mestranda em Jornalismo Científico na Unicamp e especializada em Jornalismo Econômico pela FGV. Tem mais de 5 anos de experiência em redação com agens pelo G1 e Estadão.

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