Agência
Publicado em 13 de junho de 2025 às 15h24.
A Liga de Futebol das Cidades da província de Jiangsu, no leste da China, superou 100 milhões de visualizações nas redes sociais e atingiu uma média superior a 10 mil espectadores por partida.
O torneio, apelidado por internautas de “Su Chao” (Superliga de Jiangsu), uniu futebol amador, identidade local e consumo turístico, gerando um fenômeno popular nas plataformas digitais.
Lançado em maio, o campeonato reúne 13 equipes formadas por jogadores amadores e promove jogos entre as principais cidades da província. Além da popularidade nas redes sociais, o torneio tem impulsionado o turismo e criado novas oportunidades econômicas nas cidades-sede.
Cidades como Changzhou, Yancheng e Zhenjiang registraram aumento expressivo no turismo e nas vendas de produtos locais. Combos promocionais, como ingresso por 9,9 yuans mais refeição típica, ajudaram a movimentar restaurantes e mercados regionais. Em Yancheng, pacotes turísticos que combinam observação de aves e partidas de futebol atraíram visitantes. Em Zhenjiang, o fluxo noturno na área turística de Xijindu triplicou durante os jogos.
Durante o feriado do Festival do Barco-Dragão, o número de turistas cresceu 45% em Taizhou, 27% em Yancheng e 26% em Xuzhou. Segundo a plataforma de turismo inteligente de Jiangsu, o consumo cultural e turístico por visitantes das seis cidades-sede aumentou 14,63%. Além disso, a plataforma Meituan registrou crescimento nas buscas: 197% para “churrasco de Xuzhou”, 407% para “bares para assistir futebol” e aumento na procura por “treinamento infantil de futebol”.
Governos locais criaram estratégias para atrair turistas de cidades vizinhas. Wuxi ofereceu estacionamento gratuito, pêssegos e descontos em táxis para torcedores de Changzhou. Suzhou liberou entrada gratuita em vilarejos históricos como Zhouzhuang e Tongli. Yangzhou deu o sem custo a parques estatais nos fins de semana dos jogos e criou promoções em hospedagem e eventos culturais.
Para o professor Si Zengchuo, da Universidade Normal de Jiangsu, os ingressos do torneio funcionam como cupons para o turismo local. As cidades aproveitam os eventos esportivos para aumentar o tempo de permanência dos turistas e incentivam o gasto em setores como alimentação, lazer e cultura.
A competição também tem sido uma vitrine para as tradições regionais. Zhenjiang ou a vender bebidas de vinagre como lembrança; Yangzhou destacou sua técnica de laca; e Suqian apresentou danças folclóricas nos estádios. Como comentou Zhang Chao, um visitante de Nanjing: “Antes, eu achava que Xuzhou era só uma cidade industrial. Descobri uma herança cultural Chu e Han.”
Com ingressos a 10 yuans, transmissão gratuita e processo de entrada simplificado, o campeonato atraiu mais de 190 mil torcedores nas três primeiras rodadas. Os times são compostos por professores, entregadores e programadores, trabalhadores que treinam à noite e atuam durante o dia. Essa proximidade com a rotina das pessoas aumenta a identificação do público com o torneio.
A competição também gerou interações entre cidades nas redes sociais. Perfis oficiais trocam provocações e “declarações de amor”, reforçando a narrativa de uma disputa bem-humorada. Memes, músicas e rivalidades locais ganharam espaço online, criando um novo tipo de engajamento comunitário.
Segundo especialistas, a força do “Su Chao” está no equilíbrio entre identidade local e espírito coletivo. Cada cidade-sede recebe pelo menos um jogo e aproveita a oportunidade para destacar seus atrativos turísticos e culturais. A competição se tornou palco de uma disputa paralela: quem oferece a melhor fanfarra, a comida mais popular ou a campanha mais criativa nas redes sociais.
Para o professor Li Kongyue, da Universidade Sun Yat-sen, o modelo representa uma “cooperação competitiva”: as cidades compartilham o tráfego digital gerado pela liga e impulsionam seus próprios setores com base na mobilização popular.
A competição vai até novembro. Segundo especialistas, a principal questão será manter a relevância do evento após a temporada. A ampliação de experiências derivadas, como bares temáticos, centros comerciais decorados e conteúdo digital, aparece como uma possível solução. O presidente do complexo turístico Nianhuawan, Wu Guoping, também sugere a adoção de tecnologia como reconhecimento facial, bilhete digital integrado e reservas com fila rápida.
O professor Zhou Yongbo, da Universidade de Suzhou, vê o desafio em integrar os setores de cultura, esporte, turismo e comércio. Ele defende a criação de uma cadeia de consumo sustentável em torno da economia dos eventos esportivos, com produtos oficiais, roteiros turísticos e ações educativas. "Pequenos torneios regionais podem gerar impacto significativo quando conectam o entusiasmo do público com os recursos das cidades", afirmou Zhou.