No novo episódio do EXAME INFRA, a secretária Natália Resende detalha os planos do governo paulista para levar saneamento a 218 municípios fora da Sabesp, com leilões previstos já para este ano
Publicado em 10 de junho de 2025 às 08h00. Última atualização em 10 de junho de 2025 às 12h14.
O governo de São Paulo prepara para 2026 uma rodada de leilões de concessão desaneamento básico voltada a municípios que não são atendidos pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
A iniciativa faz parte do programa UniversalizaSP, lançado em 2023 e conta hoje com a adesão de 218 municípios interessados — um aumento expressivo em relação aos 109 que integravam o projeto em seu primeiro ano. As informações foram reveladas pela secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, Natália Resende, convidada do 12º episódio do EXAME INFRA.
"Hoje estamos trabalhando com quatro a cinco blocos, agrupando municípios em uma mesma bacia hidrográfica ou área de influência. Isso permite viabilidade financeira e uma solução integrada para os problemas de saneamento", afirmou a secretária em entrevista.
A previsão inicial é de mais de R$ 20 bilhões em capital de investimento (Capex ) para viabilizar a universalização dos serviços de água e esgoto nessas cidades. O plano é organizar os municípios em blocos regionais para garantir escala e viabilidade econômica, além de atratividade para a iniciativa privada.
Dos 645 municípios paulistas, 371 já estão cobertos pelo contrato regional da Unidade Regional de Água e Esgoto (URAE-1) firmado com a Sabesp, o que corresponde a 62% da população do estado.
Sob gestão privada desde o ano ado, a companhia tem a missão de até 2029 universalizar o o à água e esgoto tratados, quatro anos antes do prazo estabelecido pelo novo marco legal do saneamento. Para isso estão previstos um investimento de R$ 260 bilhões até 2060, sendo R$ 69 bilhões até 2029.
Para os demais municípios, que historicamente ficaram fora da estrutura da estatal, o UniversalizaSP foi criado como um programa complementar. Nele, o Estado atua como articulador e cofinanciador dos projetos, assumindo papel ativo na montagem dos consórcios e concessões.
Segundo a secretária, ao longo do último ano, a gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) realizou um amplo diagnóstico da situação do saneamento nas cidades interessadas.
Foram mapeadas as condições deinfraestrutura, índices de perdas d’água — que chegam a 50% em locais como Bauru — e as vulnerabilidades associadas a eventos climáticos extremos, como enchentes e secas. As análises cobriram 3.074 autobacias hidrográficas do estado.
Com base nessas informações, o governo agora estrutura blocos de concessão com lógica territorial e econômica. A expectativa é apresentar até o fim de junho uma nova rodada técnica aos prefeitos, com os dados públicos já consolidados e os primeiros desenhos de governança e regulação.
"Vamos precisar de uma tarifa regional e de um modelo que garanta justiça tarifária. O Estado pode aportar recursos via PPP [Parceria Público-Privada], o que é muito mais eficaz do que ficar permanentemente furando poços ou desassoreando rios. O objetivo é estruturar soluções permanentes", afirmou Resende.
A criação de um ambiente regulatório robusto e previsível é considerada a principal âncora para atrair a iniciativa privada, especialmente em regiões com baixa atratividade econômica individual.
"Esses municípios, isoladamente, são deficitários. Por isso, agregá-los em blocos melhora a viabilidade econômica e o aproveitamento dos cursos d’água. E se mesmo assim o VPL [Valor Presente Líquido] for negativo, o Estado está disposto a aportar recursos para viabilizar os projetos", disse a secretária.
A regulação a ser adotada será semelhante àquela utilizada na URAE-1, que organizou a concessão com a Sabesp. Segundo ela, esse modelo traz segurança jurídica e estabilidade para os investidores e deve ser replicado nos blocos do UniversalizaSP.
A secretária reforçou que a meta do Estado é atingir a VPL u niversalização do saneamento até 2033, conforme prevê o novo marco legal. A meta foi antecipada para 2029 nos municípios atendidos pela Sabesp e, nos demais, os blocos em modelagem são considerados essenciais para que o cronograma federal seja cumprido.
"Não tenho dúvida de que esses blocos são imprescindíveis. Muitos municípios menores não têm capacidade de investir ou mesmo de fazer uma licitação. Essa é a realidade do Brasil inteiro", afirmou.
Além de água e esgoto, o UniversalizaSP também contempla políticas integradas de drenagem e resíduos sólidos. E os impactos ambientais e de saúde pública são um dos pilares do programa. Como exemplo, Natália citou que a universalização nos municípios da Sabesp pode retirar 54% da carga orgânica do rio Tietê e reduzir em 51% a emissão de CO₂, o que reforça o componente climático da política.
O EXAME INFRA é um podcast da EXAME em parceria com a empresa e, especializada em soluções para obras e projetos de infraestrutura. Com episódios quinzenais disponíveis no YouTube da EXAME , o programa se debruçará sobre os principais desafios do setor de infraestrutura no Brasil.
Ep. 1 -EXAME INFRA: SP planeja concessões de rodovias, TM e mais com R$ 30 bi em investimentos
Ep. 4 -'26 anos em 5': rodovias no Brasil terão R$ 150 bi em investimentos até 2030, diz presidente da ABCR
Ep. 5 -Com R$ 22 bi ao ano, Brasil ainda investe menos da metade para atingir meta de saneamento
EP. 6 - Privatização da Sabesp triplica velocidade da empresa, que contrata R$ 15 bi em 90 dias, diz diretor
EP. 7 - Investimento no Porto de Santos chega a R$ 22 bi e promete modernização e integração com a cidade
EP. 8 - Rumo investe R$ 6,5 bi para conectar terminal de grãos ao 'coração' da soja no MT
Ep. 9 -Concessionárias investirão R$ 40 bi de rodovias a hidrovias até 2029, diz CEO da MoveInfra
Ep. 10 -Fundos de investimentos se consolidaram no mercado de leilões, diz CEO de concessões de R$ 27 bi
Ep. 11 - 'Brasil tem pressa' e licenciamento ambiental deve ser votado antes do recesso, diz Arnaldo Jardim